*Artigo postado originalmente no site da Adital, em 10.09.2014
"Que a nossa espiritualidade se alimente da mesma mística de Jesus e da sua fidelidade ao sonho maior do bem-viver. Vinho novo em odres novos nos reúna na festa que já celebramos na fé do que há de vir, antecipado na alegria de nossos corpos, de nossos encontros, brincadeiras e danças na construção de mundos novos, possíveis e imaginados, numa esperança organizada”.
(Carta de Fortaleza)
Preparando as celebrações do encontro
Para preparar as celebrações do I Encontro de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, organizado pela Adital: Agência de Informação Frei Tito para América Latina, nos dias 15 e 16 de março, reuniram-se em Fortaleza-Ceará, pessoas das CEBs, CEBI, Curso de Verão e Rede CELEBRA, para iniciar um movimento em torno da construção das celebrações. E o primeiro passo deste movimento foi formar um núcleo, uma equipe, uma espécie de "comunidade de vida”, de sonhos, de serviços, de oração em torno da qual se construiria o grande encontro. Iniciamos o encontro com a música "Sonho impossível” de Chico Buarque e Ruy Guerra:
Sonhar mais um sonho impossível / Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível / Negar quando a regra é venderSofrer a tortura implacável / Romper a incabível prisão
Voar num limite provável / Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão / Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber / Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer / Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei / Por meu leito e perdão
Por saber que valeu / Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for / Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor / Brotar do impossível chão.
A partir desta poesia: sonhar mais um sonho impossível, fomos convidadas e convidados a construir o nosso "Caçador de Sonhos”1. O caçador de sonhos é um símbolo que nos fala de muitas coisas. Podemos pensar na sociedade, na comunidade, na equipe de celebração do I Encontro de Juventudes e Espiritualidade Libertadora como uma grande rede de caçador de sonhos, uma rede que sustenta os projetos que queremos levar em frente, uma rede de cuidados, uma rede de novas relações, uma rede do bem querer.
Imbuídos deste espírito, na roda, recebemos tarjas de papéis de diferentes cores (verde, amarelo, laranja, azul) para escrever nossos sonhos, nosso compromisso ético, o que é espiritualidade e uma boa notícia para partilhar com as juventudes. Em seguida, em rodas menores, partilhamos e armamos a rede com os fios que acolheram os nossos papéis coloridos. Por fim, sobre um grande círculo de madeira, cruzamos de um lado para o outro os fios com os papéis, aramando assim uma trama de forma densa, bela e harmoniosa. E esse movimento ajudou o grupo a se conhecer um pouco mais, tecendo relações de amizade: fraternas, cuidadoras e de companheirismo.
Terminamos este momento colocando na porta o nosso "caçador de sonhos”, na certeza de que o Divino Espírito, com seu vento impetuoso e amoroso, espalham estes sonhos aos quatro cantos da terra e que sejamos de fato uma equipe servidora para animar as liturgias deste encontro. Fomos para as rodas de conversa, iniciando o nosso segundo movimento: partilhar sobre a realidade das Juventudes: a vida, os sonhos e os desafios. Ainda nas rodas, com esse chão das juventudes, Iluminamos este momento com um texto do bispo Pedro Casaldáliga "Sobre Espiritualidade”2.
"Gostaria de insistir num aspecto que pode abranger muitos aspectos. Uma primeira ideia forte. Eu sou a minha espiritualidade, eu não tenho espiritualidade, sou a espiritualidade. Porque minha espiritualidade é toda minha vida: o que eu sou, o que eu faço, o que eu suporto, o que eu conquisto, o que eu anseio, a minha esperança. Tudo isto é a minha espiritualidade com todas as circunstâncias, de família, de comunidade. Na hora concreta, do país, do mundo, Eu sou minha espiritualidade. Gostaria que esta expressão com todo o seu conteúdo ficasse nas mentes, e nos corações de vocês. Dentro disso, evidentemente especificamos: há muitas espiritualidades. Toda pessoa que vive com certa intimidade, com certa profundidade, motivada por ideais maiores, por anseios, por ideais, por causas, é uma pessoa que tem espiritualidade. Inclusive pode chegar ao ponto de não ter uma referência religiosa, mas são valores que acabam sendo religiosos também.
Nós, fundamentalmente, é lógico, somos espiritualidade cristã, mais explicitamente, no seguimento de Jesus. De modo que revitalizemos esta perspectiva essencialmente cristã. A única essencialmente cristã, o seguimento de Jesus. Também a sua espiritualidade foi a sua vida, que centramos no mistério da Páscoa, morte e ressurreição. Se dará depois traços particulares; homem e mulher, família, estudos, saúde, experiências e fracassos, triunfos, o dia-a-dia.
Eu gosto de insistir também: "Eu sou o dia de hoje”. Também na espiritualidade é necessário ser bem realistas, não apenas sonhar espiritualidades, mas, vivenciar a Espiritualidade”.
Depois de escutarmos o texto e de sermos desafiados pelas palavras proféticas do bispo Pedro, iniciamos um terceiro movimento: a preparação das celebrações. Olhamos a programação do encontro: quais são os momentos celebrativos? O que temos que preparar? Como preparar estes momentos com beleza, simplicidade e profecia? Fomos também visitar o local onde vai acontecer o encontro, os espaços das celebrações. E, num processo de construção coletiva, levantamos sugestões, ideias, encaminhamentos e propostas para as várias celebrações: Abertura, dos Mártires, da Paz, Vigília da luz e da esperança pascal e a celebração de encerramento e envio.
Nosso encontro foi marcado pela mística do cuidado, de relações humanas simples, verdadeiras e afetuosas, e pelo Ofício de Vigília, alimentando nossa Espiritualidade no seguimento a Jesus de Nazaré, na fidelidade ao Reino e na opção pelos pobres, de modo especial às Juventudes empobrecidas. E aí, Vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”.
O espaço das celebrações
O I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora aconteceu na Faculdade Católica de Fortaleza, no antigo seminário da Prainha, chão sagrado, onde os pés de Helder Câmara, de Padre Cícero, como também de tantas outras pessoas sonhadoras com uma Igreja pobre e dos pobres, caminharam nos tempos de estudo. E agora, juventudes vindas de tantos cantos do Brasil, com seus corpos sedentos de desejos, de esperança e de profecia pisam neste chão: Tocar o inacessível chão... Virar este mundo, cravar este chão... E amanhã este chão que eu deixei por meu leito e perdão, por saber que valeu delirar e morrer de paixão.
O prédio é uma construção do século passado, bem bonito e acolhedor, com várias salas, auditórios, salões, capelas, jardins... Para as celebrações optamos por uma área mais aberta, em formato retangular, com vários arcos dando ao espaço beleza, recolhimento e mística orante. Neste local, compomos o espaço para as celebrações, tendo em vista a circularidade, as relações de igualdade, a funcionalidade e a força simbólica deste chão sagrado.
Para arrumar e ornamentar este espaço pensou em usar objetos próprios da cultura cearense: redes, jangadas, potes, esteiras, mandacarus, etc. Com esteiras circulares marcamos três espaços: da Palavra, da luz e da comensalidade e, em torno destes, foram distribuídas as cadeiras em rodas, formando uma grande ciranda, um jeito circular de ser Igreja e de celebrar3.
Tenda dos Mártires
Outro espaço pensado para este encontro foi o da Tenda dos Mártires da Caminhada. Em uma das salas, montamos este espaço para cultivar a Espiritualidade do Martírio, fazer memória das vidas doadas pela Vida, das juventudes exterminadas, martirizadas e esperançadas. Este chão da memória, santuário sagrado, tenda pascal foi preparado e ornamentado com fitas de cetim coloridas, estandartes dos mártires, rostos de juventudes, com velas, flores e folhas de palmeiras...
Também para fazer memória dos 50 anos do golpe militar foi preparada uma sala da tortura nunca mais, com fotografias deste momento da história, arame farpado, flores vermelhas e músicas desta época, recordamos e gritamos que não queremos mais ditaduras, torturas, mortes de Cláudias, Hamarildos... de extermínios de Juventudes: Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz?
Celebração de Abertura
As celebrações foram marcadas por sua simbologia, encanto e beleza, simples e sóbrias, afetuosas e orantes, e todas com uma forte dimensão ecumênica. O ofício Divino da Juventude foi referencia para todas as celebrações.
No entardecer do dia 1º de maio, no embalo dos cantos regionais, com abraços e beijos, mais de 400 jovens, vindos de todas as regiões do Brasil, com muito carinho, foram acolhidas neste chão sagrado, terra do Ceará, terra do sol, das poesias de Patativa do Assaré, pátria do mandacaru, de vaqueiros, de Padim Ciço, de repentistas, das mulheres rendeiras; de Caldeirões e Canudos, Conselheiros, Lourenços e Marias: É muito gostoso esse nosso aconchego e nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz!
Ao ressoar dos atabaques e tambores, fomos convocados/convocadas para a festa da vida. E um grande silêncio foi tomando conta da assembleia. Enquanto se entoava o canto: Chama de luz e de calor, Espírito sopro de amor, reúne o teu povo a caminho é a vida, viva, chama..., um jovemacendeu o fogo que estava em uma pira no meio da assembleia, e proclamou: Bendito sejas, Deus da vida: Tupã, Obatalá, Maíra, Olorum, pelo fogo que aquece nossos dias e clareia nossas noites, e pelo fogo que brilha nas lutas e esperanças de todas as Juventudes da terra.
Em seguida fomos convidados para passear por este estado de muitos cearás, na grande diversidade cultural, de pessoas, de lutas e desafios. Conhecer um pouco das raízes desta terra, os nossos irmãos indígenas: Tapeba, Pitaguari, Jenipapa-Canindé, Tremembé, Anace... que aqui residem e resistem. Após esse convite, um indígena Pitaguari ao som das maracás, com seus passos lentos e firmes, entra neste espaço. Também com atabaque e dança entra na roda da história o povo negro, povo que ajudou a construir este estado e, por fim, um grupo de pescadores e jovens carregando uma jangada ao som da música Suíte do Pescador, de Dorival Caymmi : Minha jangada vai sair pro mar vou, trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser, quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer; meus companheiros também vão voltar, e a Deus do céu vamos agradecer...
Com o canto de Zé Vicente: "Quando o dia da paz renascer, quando o sol da esperança brilhar, eu vou cantar, nós vamos cantar... vários jovens entram com as bandeiras das juventudes, das lutas dos trabalhadores e das trabalhadoras: MST, Wiphla, Ecumenismo, CEBs, Direitos Humanos, Juventudes (PJ, PJE, PJR, PJMP, JUFRA, MIRE), UNE, LGBTS, MABE, MPA, PO, CIMI, CPT, Pastoral Afro, Levante popular, Via campesina, Pastoral do povo da Rua, Igreja (Luterana e Anglicana), REDE um grito pela vida, mostrando que tem um povo que luta, que se organiza, que sonha: são os lutadores e lutadoras do povo que constroem a história, preparam solidariamente o nosso futuro e tem nas mãos as bandeiras da festa e da luta. Encerrando este momento foi rezada a oração:
Ó Deus da beleza juvenil,
Pai e Mãe de todos os povos,Bendito sejas por este encontro das Juventudes
reunida em teu nome.
Derrama sobre nós o teu Espírito
que ele esteja bem presente em nossos debates e
em nossa convivência durante estes dias.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém!Axé. Awiri, Aleluia!
Na alegria da festa, a Palavra de Deus foi acolhida, ela que é lâmpada para os nossos pés e luz do nosso caminho. Foi trazida por jovens, com dança, incenso. E proclamaram: "Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra. As coisas antigas nunca serão lembradas, nunca mais voltarão ao pensamento. Por isso fiquem alegres e contentes, por causa do que vou criar.....” (Isaías 65,17-25). Houve um silêncio para acolher a Palavra, meditação e partilha.
Trazendo, para esta assembleia em prece, o anseio de toda a criação, das juventudes, os frutos da terra: castanhas, rapaduras e cajus cristalizados, foram colocados na mesa da irmandade, ao som de Cio da terra. Foi proclamada a bênção dos alimentos, frutos da Terra-Mãe e arte de nossas mãos! Pedimos ao Senhor que venha o Reino e nos ensine a rezar e rezamos a grande prece do Pai Nosso. Partilhamos, num grande banquete daqueles e daquelas que têm fome de justiça, sonham com a mesa da partilha e querem saborear as doçuras desta terra. No final, as juventudes, mulheres e homens foram abençoados/abençoadas e, com muitas danças, abraços, entoamos várias músicas da cultura cearense, como por exemplo: Asa branca, de Luiz Gonzaga.
Celebração dos Mártires
A oração da manhã, do dia 2 de maio começou com o refrão meditativo: Deus é amor, arrisquemos viver por amor. Deus é amor, Ele afasta o medo! Repetido várias vezes, possibilitou o clima de silêncio, de oração, juntando, unificando e harmonizando o coração da assembleia. Entoando o canto: Vidas pela Vida, vidas pelo Reino... dialogado entre a pessoa que animava a celebração e a assembleia, fez-se a abertura. Em seguida foi feita a recordação da vida, fazendo memória dos nossos mártires, daqueles e daquelas que deram as suas vidas numa prova maior de amor, pelas Causas da Vida, pelas Causas do Reino. Recordamos Frei Tito Alencar Lima, cearense, Mártir da Tortura. "Religioso dominicano, perseguido e preso por seu compromisso com o povo oprimido, viveu as mais bárbaras torturas, físicas e psicológicas, sobretudo na Operação Bandeirantes – centro de torturas do exército, em São Paulo. É um dos caos mais dramáticos da perseguição à Igreja e ao povo nesses anos das ditaduras militares de Nossa América. Tito interiorizou toda as acusações, as solidões todas, tentou evitar de todo jeito comprometer seus companheiros, carregou como uma sombra de pecado a imagem do delegado torturador Fleury, no exílio do Chile e da França e, finalmente, num gesto de expiação, se enforcou num árvore, aos 28 anos, na capina francesa. Mártir da tortura, mundialmente, vítima dos poderes de repressão. Num poema histórico, que escreveu, na França, reproduz com sua agonia a agonia de Jesus: "Pediste a teu Pai tua paz, o sentido de tua paixão e de teu amor. / Meu Pai, meu país: por que me abandonastes?” Enquanto se entoavam o hino: Pai nosso dos Mártires, vários estandartes iam compondo o ambiente, trazidos por jovens, formando uma grande nuvem de testemunhas.
A proclamação do Evangelho das Bem-Aventuranças foi anunciado pela boca das juventudes. Depois de um tempo de silêncio, Frei Betto partilhou conosco um pouco sobre a experiência mística deste evangelho vivido por Frei Tito; "Felizes vocês que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu”.Mesmo sendo perseguido, torturado, Frei Tito manteve sua fidelidade ao evangelho e ao povo. Depois da partilha, todos e todas cantaram o refrão do Pe. Leôncio José, Bem-aventurados aqueles que promovem a paz, / Porque serão, filhos de Deus chamados, / Porque serão, filhas de Deus chamadas. Após este momento foram lembradas as testemunhas do Reino, os Mártires da Caminhada Latino-Americana que roguem a Deus por toda a humanidade, herdeiros de muito sangue e de muitos sonhos. Enquanto dizíamos em alta voz os nomes de nossos mártires, a assembleia respondia: PRESENTE NA CAMINHADA! A oração foi concluída com o Pai Nosso e a bênção e a convocação para que todos e todas, testemunhas e herdeiros do sangue derramado, assumíssemos as Causas do Evangelho do Reino, as Causas dos mártires na construção da sociedade do Bem-Viver.
Celebração da Paz
No terceiro dia do encontro, 03 de maio, as juventudes foram acolhidas com o refrão: "Seja bendito quem chega, seja bendito quem chega, trazendo paz, trazendo paz, trazendo a paz do Senhor!”.Entoaram os versos da abertura, e as vozes da assembleia repetiam com muita beleza e unção. Na recordação da vida, fomos chamados a entrarmos em comunhão com o povo judeu que celebra o sábado como dia do Senhor e a assembleia adere num grande silêncio. Neste dia, recebemos a notícia da páscoa-passagem de dom Tomás Balduino. Marcelo Barros foi convidado para fazer memória da vida deste bispo profeta da Esperança que dedicou sua vida ao serviço do povo, sendo uma presença da paz rebelde entre os militantes da CPT e CIMI... enfim na luta pela terra. Ainda recordamos as nossas utopias, nosso sonho da paz, e as situações que ferem a paz. Toda a destruição da casa da humanidade, as guerras entre os povos, a violência urbana, a falta de políticas publicas para os pobres, o narcotráfico, os milhões gastos na Copa, o trabalho escravo, o desemprego, o extermínio das juventudes, o conflito entre as igrejas, a não desapropriação de terras para a reforma agrária, a não demarcação das terras indígenas, todas as formas de corrupção, a exploração de corpos, o tráfico humano. O Hino: "É bonita demais, é bonita demais, as mãos de quem conduz a bandeira da Paz!”foi entoado e um casal de jovens entrou dançando com uma grande bandeira da paz. A bela oração da missa da Terra Sem Males foi rezada:
Shalom! Sauidi! A paz!
A Paz de Deus, na paz dos Povos.O amor do Pai entre os irmãos e irmãs.
Todos os Povos num só Povo.
Porque o Senhor é nossa Paz.
Shalom a paz antiga,
Sauidi, a paz perdida,
Em Cristo, a nova Paz!
Shalom, Sauidi, A Paz!
Depois de ouvirmos o Evangelho de João 20,19-29, em que Jesus, estando no meio dos discípulos, diz por três vezes: "A paz esteja com vocês”, e depois de um profundo silêncio, a assembleia é convidada a lembrar nomes de pessoas que foram e são sinais de paz para nós, nesta hora uma grande ladainha de mulheres e homens: Helder Câmara, Margarida Alves, Pedro Casaldáliga, Rigoberta Menchu, Padre Cícero, Luther King, Gandi, Paulo Evaristo Arns, Dorothy Stang, Nelson Mandela, padre Gisley... e tantos outros foram lembrados. Com todas as pessoas sonhadoras da paz, foi rezada a oração que Senhor na Paz nos ensinou. Esse momento final foi selado com a oração e a dança pela paz: A paz esteja convosco... A paz de Cristo, Cristo, Cristo é nossa paz!
C. Em comunhão com os povos indígenas, que buscam a terra sem males, desejamos uns aos outros: "Sauidi!”
T. Sauidi!
C. Unidos ao povo negro, que luta por dignidade e reconhecimento, digamos uns aos outros: "Axé!’
T. Axé!
C. Junto com os que buscam a Deus no judaísmo, proclamamos: "Shalom!”
T. Shalom!
C. Com os irmãos e irmãs do islamismo, desejamos: "Assalam!”
T. Assalam!
C. Com todas as pessoas que procuram Deus, independente de qualquer religião, desejamos: "Paz!”:
T. Paz!
Vigília da Luz e da Esperança Pascal
Na noite do sábado, neste mesmo dia, iniciou-se a vigília num ambiente de penumbra. Enquanto era entoado o refrão meditativo: "Mesmo as trevas não são trevas para ti, a noite é luminosa como o dia”, jovens foram entrando com vários estandartes dos mártires, folhas de palmeiras e lamparinas acesas e posicionando-se entre os arcos, dando um belíssimo visual a toda a assembleia. Dois jovens acenderam as luzes da festa, a tocha central e as muitas velas e lamparinas que estavam espalhadas no espaço celebrativo. A equipe que presidia a celebração entoou a abertura do ofício de vigília, "Verdadeiramente ressurgiu Jesus, / cantemos aleluia! Resplandece a luz!” e toda a assembleia respondia cantando. Num determinado momento, as lamparinas que haviam sido distribuídas para todos e todas foram sendo acesas, iluminando todo o espaço. Ervas cheirosas eram oferecidas e subiam aos céus, a fumaça perfumada, "Suba nosso incenso a ti, ó Senhor!”, levando as preces desta assembleia em festa.
As pessoas que vieram para a celebração foram acolhidas e, na "recordação da vida”, ocorreu uma grande participação da assembleia, lembrando de fatos, situações, acontecimentos que marcaram nossas vidas nestes dias e se entoou o hino: "Quando morrer a utopia...”. Depois cantamos e rezamos o salmo 136 (135), louvando a Deus pelas maravilhas que ele fez na história do seu povo, na nossa vida e no nosso encontro.
Pois eterno é seu amor por nós, nesta certeza fomos convidados e convidadas a caminhar pelas ruas de Fortaleza "Caminhando e cantando” entoando cantos de lutas e esperanças, dizendo palavras de ordem, mas também no silêncio contemplando a noite, a realidade da vida do povo. As juventudes, com as lamparinas nas mãos, guiadas pelos mártires da caminhada e com as bandeiras das utopias saíram em direção à praia de Iracema,
Iluminando a noite e o caminho, numa grande procissão de sonhos e compromissos com o bem Viver!
Ao chegar à beira da praia, fomos convidados/convidadas a contemplar a noite, o céu, as estrelas, o mar, o som das ondas, a praia... Depois do silêncio contemplativo, embalados pelo refrão: "Onde Reina o amor, fraterno amor....” formamos rodas e, na voz da mulher, negra, jovem, escutamos o Evangelho João 21,4-14, onde o ressuscitado aparece aos discípulos, na beira do praia, e os convida para comer pão e peixe. Em seguida, reunimo-nos em rodas menores com esse convite de Jesus: Vinde comer. Lá estavam no centro de cada roda, tochas e cestos com cocos e peneiras com tapiocas e peixes... Jesus aproximou-se, tomou o pão... tomou o peixe e deu a eles. Em cada uma das 10 rodas, jovens entoaram a bênção da refeição fraterna, agradecendo a Deus pelos frutos da mãe terra e do trabalho das nossas mãos; rezamos a oração da unidade e o alimento foi partilhado entre todos e todas, numa grande festa da vida.
Finalizamos esta vigília da luz e da esperança pascal, dançando a grande ciranda, ensaiando e experimentando com os nossos corpos o amanhã de um novo dia, a primavera do Novo amanhecer!
Celebração de encerramento e de envio
Na manhã de domingo, dia 04 de maio, em clima de encerramento, com o refrão: Deus está em mim, Deus está em nós... Meu coração é pleno de amor”, iniciou-se a celebração de envio. A abertura foi com a música de Zé Vicente: Canto de amor, expressando nossa gratidão pelo caminho percorrido nestes dias e pelo o que o Espírito disse às nossas comunidades. Na recordação da vida, expressamos com palavras o que levo deste encontro, o que de belo foi construído e os desafios que precisam ser superados. Durante o hino "Momento novo” várias pessoas, homens e mulheres, jovens e idosas que trabalharam nas diversas equipes de serviço entraram com o painel do encontro.
A Palavra proclamada foi a de Marcos 16,15: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!”. Em seguida várias pessoas, espalhadas no meio da assembleia, ressoaram essa boa notícia: Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para toda a humanidade! Juventudes, vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova do Reino! Povo de lutadoras e lutadores, vão pelo mundo inteiro e anunciem a Justiça do Reino! E toda a assembleia adere a essa convocação cantando: "Onde reina o amor, fraterno amor, Deus aí está”. Em seguida foi lida a Carta do Encontro de Fortaleza, que foi acolhida por todas e todos, com uma grande salva de palmas.
Juventudes das cinco grandes regiões do Brasil entram com potes de óleo perfumado. Fez-se a bênção do óleo convidando-nos para sermos, nos quatro cantos da terra, o bom perfume de Cristo, as/os jovens se espalharam no meio da assembleia e ungiram a todos/as dizendo: "A paz esteja com você. Como o Pai me enviou eu também o/a envio. Receba o Espírito”. O cheiro do perfume da unção tomou conta de toda a assembleia e fomos abençoados e enviados a seguir em missão, sendo Juventudes Libertadoras.
Abençoa, Senhor, nossos olhos.
Que sejam confiantes e puros para enxergarem
em meio à noite mais tenebrosa,
a aurora que se aproxima!
Abençoa, Senhor, nossa boca.
Que gritemos em todas as línguas em favor da paz e da justiça
e denunciemos os que tiram a felicidade aos simples!
Abençoa, Senhor, nossos ouvidos.
Que escutem até o silêncio de quem está
impedido de falar ou que tem sua voz abafada!
Abençoa, Senhor, nosso coração.
Que acolha a todos e recuse a ofensa e o horror desta civilização!
Abençoa, Senhor, nosso ventre.
Que produza energias que provoquem mais beleza e alegria!
Abençoa, Senhor, nossos pés.
Que tenham agilidade e leveza para levar a todos os lugares,
as Boas Notícias de liberdade!.
Abençoa, Senhor, minha irmã! Abençoa, Senhor, meu irmão!
Assim as juventudes viveram em Fortaleza um momento de grande ação de graça, não só nas celebrações que foram o ponto alto do encontro, mas na trama de todo o encontro. Esse modo de celebrar se insere no cotidiano, mas, se torna verdadeiramente "fonte e cume” da experiência de comunhão da juventude reunida no evento.
Antonio Carlos Pereira da Silva (Tonny) – Membro da Irmandade dos Mártires da Caminhada
Laudimiro de Jesus Borges (Mirim), CSS – Membro da Rede Celebra de Liturgia e Irmandade dos Mártires da Caminhada
[1]Caçador de sonho tem seu sentido original na mitologia dos povos nativos. O caçador de sonhos é uma estrutura circular. Nas culturas nativas Mapuche e dos povos originários do Norte América, o caçador de sonhos pega os sonhos bons e os deixam presos, os sonhos ruins para que não voltem mais ele os deixam ir embora. O Caçador é colocado na porta das casas ou sobre as camas para que as crianças e todas as pessoas se levantem de bom gosto, depois de ter sonhado, sonhos bons durante a noite.
2 Sobre Espiritualidade, texto de Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.
3 Reginaldo Veloso. In: Revista de Liturgia, n. 242 março/abril de 2014.
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