quarta-feira, 10 de setembro de 2014

I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora

*Artigo postado originalmente no site da Adital, em 10.09.2014

"Que a nossa espiritualidade se alimente da mesma mística de Jesus e da sua fidelidade ao sonho maior do bem-viver. Vinho novo em odres novos nos reúna na festa que já celebramos na fé do que há de vir, antecipado na alegria de nossos corpos, de nossos encontros, brincadeiras e danças na construção de mundos novos, possíveis e imaginados, numa esperança organizada”.
(Carta de Fortaleza)

Preparando as celebrações do encontro




Para preparar as celebrações do I Encontro de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, organizado pela Adital: Agência de Informação Frei Tito para América Latina, nos dias 15 e 16 de março, reuniram-se em Fortaleza-Ceará, pessoas das CEBs, CEBI, Curso de Verão e Rede CELEBRA, para iniciar um movimento em torno da construção das celebrações. E o primeiro passo deste movimento foi formar um núcleo, uma equipe, uma espécie de "comunidade de vida”, de sonhos, de serviços, de oração em torno da qual se construiria o grande encontro. Iniciamos o encontro com a música "Sonho impossível” de Chico Buarque e Ruy Guerra:

Sonhar mais um sonho impossível / Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível / Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável / Romper a incabível prisão
Voar num limite provável / Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão / Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber / Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer / Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei / Por meu leito e perdão
Por saber que valeu / Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for / Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor / Brotar do impossível chão.


A partir desta poesia: sonhar mais um sonho impossível, fomos convidadas e convidados a construir o nosso "Caçador de Sonhos”1. O caçador de sonhos é um símbolo que nos fala de muitas coisas. Podemos pensar na sociedade, na comunidade, na equipe de celebração do I Encontro de Juventudes e Espiritualidade Libertadora como uma grande rede de caçador de sonhos, uma rede que sustenta os projetos que queremos levar em frente, uma rede de cuidados, uma rede de novas relações, uma rede do bem querer.
Imbuídos deste espírito, na roda, recebemos tarjas de papéis de diferentes cores (verde, amarelo, laranja, azul) para escrever nossos sonhos, nosso compromisso ético, o que é espiritualidade e uma boa notícia para partilhar com as juventudes. Em seguida, em rodas menores, partilhamos e armamos a rede com os fios que acolheram os nossos papéis coloridos. Por fim, sobre um grande círculo de madeira, cruzamos de um lado para o outro os fios com os papéis, aramando assim uma trama de forma densa, bela e harmoniosa. E esse movimento ajudou o grupo a se conhecer um pouco mais, tecendo relações de amizade: fraternas, cuidadoras e de companheirismo.
Terminamos este momento colocando na porta o nosso "caçador de sonhos”, na certeza de que o Divino Espírito, com seu vento impetuoso e amoroso, espalham estes sonhos aos quatro cantos da terra e que sejamos de fato uma equipe servidora para animar as liturgias deste encontro. Fomos para as rodas de conversa, iniciando o nosso segundo movimento: partilhar sobre a realidade das Juventudes: a vida, os sonhos e os desafios. Ainda nas rodas, com esse chão das juventudes, Iluminamos este momento com um texto do bispo Pedro Casaldáliga "Sobre Espiritualidade”2.
"Gostaria de insistir num aspecto que pode abranger muitos aspectos. Uma primeira ideia forte. Eu sou a minha espiritualidade, eu não tenho espiritualidade, sou a espiritualidade. Porque minha espiritualidade é toda minha vida: o que eu sou, o que eu faço, o que eu suporto, o que eu conquisto, o que eu anseio, a minha esperança. Tudo isto é a minha espiritualidade com todas as circunstâncias, de família, de comunidade. Na hora concreta, do país, do mundo, Eu sou minha espiritualidade. Gostaria que esta expressão com todo o seu conteúdo ficasse nas mentes, e nos corações de vocês. Dentro disso, evidentemente especificamos: há muitas espiritualidades. Toda pessoa que vive com certa intimidade, com certa profundidade, motivada por ideais maiores, por anseios, por ideais, por causas, é uma pessoa que tem espiritualidade. Inclusive pode chegar ao ponto de não ter uma referência religiosa, mas são valores que acabam sendo religiosos também.
Nós, fundamentalmente, é lógico, somos espiritualidade cristã, mais explicitamente, no seguimento de Jesus. De modo que revitalizemos esta perspectiva essencialmente cristã. A única essencialmente cristã, o seguimento de Jesus. Também a sua espiritualidade foi a sua vida, que centramos no mistério da Páscoa, morte e ressurreição. Se dará depois traços particulares; homem e mulher, família, estudos, saúde, experiências e fracassos, triunfos, o dia-a-dia.
Eu gosto de insistir também: "Eu sou o dia de hoje”. Também na espiritualidade é necessário ser bem realistas, não apenas sonhar espiritualidades, mas, vivenciar a Espiritualidade”.

Depois de escutarmos o texto e de sermos desafiados pelas palavras proféticas do bispo Pedro, iniciamos um terceiro movimento: a preparação das celebrações. Olhamos a programação do encontro: quais são os momentos celebrativos? O que temos que preparar? Como preparar estes momentos com beleza, simplicidade e profecia? Fomos também visitar o local onde vai acontecer o encontro, os espaços das celebrações. E, num processo de construção coletiva, levantamos sugestões, ideias, encaminhamentos e propostas para as várias celebrações: Abertura, dos Mártires, da Paz, Vigília da luz e da esperança pascal e a celebração de encerramento e envio.
Nosso encontro foi marcado pela mística do cuidado, de relações humanas simples, verdadeiras e afetuosas, e pelo Ofício de Vigília, alimentando nossa Espiritualidade no seguimento a Jesus de Nazaré, na fidelidade ao Reino e na opção pelos pobres, de modo especial às Juventudes empobrecidas. E aí, Vai ter fim a infinita aflição e o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão”.

O espaço das celebrações

I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidade Libertadora aconteceu na Faculdade Católica de Fortaleza, no antigo seminário da Prainha, chão sagrado, onde os pés de Helder Câmara, de Padre Cícero, como também de tantas outras pessoas sonhadoras com uma Igreja pobre e dos pobres, caminharam nos tempos de estudo. E agora, juventudes vindas de tantos cantos do Brasil, com seus corpos sedentos de desejos, de esperança e de profecia pisam neste chão: Tocar o inacessível chão... Virar este mundo, cravar este chão... E amanhã este chão que eu deixei por meu leito e perdão, por saber que valeu delirar e morrer de paixão.
O prédio é uma construção do século passado, bem bonito e acolhedor, com várias salas, auditórios, salões, capelas, jardins... Para as celebrações optamos por uma área mais aberta, em formato retangular, com vários arcos dando ao espaço beleza, recolhimento e mística orante. Neste local, compomos o espaço para as celebrações, tendo em vista a circularidade, as relações de igualdade, a funcionalidade e a força simbólica deste chão sagrado.
Para arrumar e ornamentar este espaço pensou em usar objetos próprios da cultura cearense: redes, jangadas, potes, esteiras, mandacarus, etc. Com esteiras circulares marcamos três espaços: da Palavra, da luz e da comensalidade e, em torno destes, foram distribuídas as cadeiras em rodas, formando uma grande ciranda, um jeito circular de ser Igreja e de celebrar3.


Tenda dos Mártires
Outro espaço pensado para este encontro foi o da Tenda dos Mártires da Caminhada. Em uma das salas, montamos este espaço para cultivar a Espiritualidade do Martírio, fazer memória das vidas doadas pela Vida, das juventudes exterminadas, martirizadas e esperançadas. Este chão da memória, santuário sagrado, tenda pascal foi preparado e ornamentado com fitas de cetim coloridas, estandartes dos mártires, rostos de juventudes, com velas, flores e folhas de palmeiras...
Também para fazer memória dos 50 anos do golpe militar foi preparada uma sala da tortura nunca mais, com fotografias deste momento da história, arame farpado, flores vermelhas e músicas desta época, recordamos e gritamos que não queremos mais ditaduras, torturas, mortes de Cláudias, Hamarildos... de extermínios de Juventudes: Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz?

Celebração de Abertura

As celebrações foram marcadas por sua simbologia, encanto e beleza, simples e sóbrias, afetuosas e orantes, e todas com uma forte dimensão ecumênica. O ofício Divino da Juventude foi referencia para todas as celebrações.
No entardecer do dia 1º de maio, no embalo dos cantos regionais, com abraços e beijos, mais de 400 jovens, vindos de todas as regiões do Brasil, com muito carinho, foram acolhidas neste chão sagrado, terra do Ceará, terra do sol, das poesias de Patativa do Assaré, pátria do mandacaru, de vaqueiros, de Padim Ciço, de repentistas, das mulheres rendeiras; de Caldeirões e Canudos, Conselheiros, Lourenços e Marias: É muito gostoso esse nosso aconchego e nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz!
Ao ressoar dos atabaques e tambores, fomos convocados/convocadas para a festa da vida. E um grande silêncio foi tomando conta da assembleia. Enquanto se entoava o canto: Chama de luz e de calor, Espírito sopro de amor, reúne o teu povo a caminho é a vida, viva, chama..., um jovemacendeu o fogo que estava em uma pira no meio da assembleia, e proclamou: Bendito sejas, Deus da vida: Tupã, Obatalá, Maíra, Olorum, pelo fogo que aquece nossos dias e clareia nossas noites, e pelo fogo que brilha nas lutas e esperanças de todas as Juventudes da terra.
Em seguida fomos convidados para passear por este estado de muitos cearás, na grande diversidade cultural, de pessoas, de lutas e desafios. Conhecer um pouco das raízes desta terra, os nossos irmãos indígenas: Tapeba, Pitaguari, Jenipapa-Canindé, Tremembé, Anace... que aqui residem e resistem. Após esse convite, um indígena Pitaguari ao som das maracás, com seus passos lentos e firmes, entra neste espaço. Também com atabaque e dança entra na roda da história o povo negro, povo que ajudou a construir este estado e, por fim, um grupo de pescadores e jovens carregando uma jangada ao som da música Suíte do Pescador, de Dorival Caymmi : Minha jangada vai sair pro mar vou, trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser, quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer; meus companheiros também vão voltar, e a Deus do céu vamos agradecer...
Com o canto de Zé Vicente: "Quando o dia da paz renascer, quando o sol da esperança brilhar, eu vou cantar, nós vamos cantar... vários jovens entram com as bandeiras das juventudes, das lutas dos trabalhadores e das trabalhadoras: MST, Wiphla, Ecumenismo, CEBs, Direitos Humanos, Juventudes (PJ, PJE, PJR, PJMP, JUFRA, MIRE), UNE, LGBTS, MABE, MPA, PO, CIMI, CPT, Pastoral Afro, Levante popular, Via campesina, Pastoral do povo da Rua, Igreja (Luterana e Anglicana), REDE um grito pela vida, mostrando que tem um povo que luta, que se organiza, que sonha: são os lutadores e lutadoras do povo que constroem a história, preparam solidariamente o nosso futuro e tem nas mãos as bandeiras da festa e da luta. Encerrando este momento foi rezada a oração:

Ó Deus da beleza juvenil,
Pai e Mãe de todos os povos,
Bendito sejas por este encontro das Juventudes
reunida em teu nome.
Derrama sobre nós o teu Espírito
que ele esteja bem presente em nossos debates e
em nossa convivência durante estes dias.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém!Axé. Awiri, Aleluia!

Na alegria da festa, a Palavra de Deus foi acolhida, ela que é lâmpada para os nossos pés e luz do nosso caminho. Foi trazida por jovens, com dança, incenso. E proclamaram: "Vejam! Eu vou criar um novo céu e uma nova terra. As coisas antigas nunca serão lembradas, nunca mais voltarão ao pensamento. Por isso fiquem alegres e contentes, por causa do que vou criar.....” (Isaías 65,17-25). Houve um silêncio para acolher a Palavra, meditação e partilha.
Trazendo, para esta assembleia em prece, o anseio de toda a criação, das juventudes, os frutos da terra: castanhas, rapaduras e cajus cristalizados, foram colocados na mesa da irmandade, ao som de Cio da terra. Foi proclamada a bênção dos alimentos, frutos da Terra-Mãe e arte de nossas mãos! Pedimos ao Senhor que venha o Reino e nos ensine a rezar e rezamos a grande prece do Pai Nosso. Partilhamos, num grande banquete daqueles e daquelas que têm fome de justiça, sonham com a mesa da partilha e querem saborear as doçuras desta terra. No final, as juventudes, mulheres e homens foram abençoados/abençoadas e, com muitas danças, abraços, entoamos várias músicas da cultura cearense, como por exemplo: Asa branca, de Luiz Gonzaga.

Celebração dos Mártires
A oração da manhã, do dia 2 de maio começou com o refrão meditativo: Deus é amor, arrisquemos viver por amor. Deus é amor, Ele afasta o medo! Repetido várias vezes, possibilitou o clima de silêncio, de oração, juntando, unificando e harmonizando o coração da assembleia. Entoando o canto: Vidas pela Vida, vidas pelo Reino... dialogado entre a pessoa que animava a celebração e a assembleia, fez-se a abertura. Em seguida foi feita a recordação da vida, fazendo memória dos nossos mártires, daqueles e daquelas que deram as suas vidas numa prova maior de amor, pelas Causas da Vida, pelas Causas do Reino. Recordamos Frei Tito Alencar Lima, cearense, Mártir da Tortura. "Religioso dominicano, perseguido e preso por seu compromisso com o povo oprimido, viveu as mais bárbaras torturas, físicas e psicológicas, sobretudo na Operação Bandeirantes – centro de torturas do exército, em São Paulo. É um dos caos mais dramáticos da perseguição à Igreja e ao povo nesses anos das ditaduras militares de Nossa América. Tito interiorizou toda as acusações, as solidões todas, tentou evitar de todo jeito comprometer seus companheiros, carregou como uma sombra de pecado a imagem do delegado torturador Fleury, no exílio do Chile e da França e, finalmente, num gesto de expiação, se enforcou num árvore, aos 28 anos, na capina francesa. Mártir da tortura, mundialmente, vítima dos poderes de repressão. Num poema histórico, que escreveu, na França, reproduz com sua agonia a agonia de Jesus: "Pediste a teu Pai tua paz, o sentido de tua paixão e de teu amor. / Meu Pai, meu país: por que me abandonastes?” Enquanto se entoavam o hino: Pai nosso dos Mártires, vários estandartes iam compondo o ambiente, trazidos por jovens, formando uma grande nuvem de testemunhas.
A proclamação do Evangelho das Bem-Aventuranças foi anunciado pela boca das juventudes. Depois de um tempo de silêncio, Frei Betto partilhou conosco um pouco sobre a experiência mística deste evangelho vivido por Frei Tito; "Felizes vocês que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu”.Mesmo sendo perseguido, torturado, Frei Tito manteve sua fidelidade ao evangelho e ao povo. Depois da partilha, todos e todas cantaram o refrão do Pe. Leôncio José, Bem-aventurados aqueles que promovem a paz, / Porque serão, filhos de Deus chamados, / Porque serão, filhas de Deus chamadas. Após este momento foram lembradas as testemunhas do Reino, os Mártires da Caminhada Latino-Americana que roguem a Deus por toda a humanidade, herdeiros de muito sangue e de muitos sonhos. Enquanto dizíamos em alta voz os nomes de nossos mártires, a assembleia respondia: PRESENTE NA CAMINHADA! A oração foi concluída com o Pai Nosso e a bênção e a convocação para que todos e todas, testemunhas e herdeiros do sangue derramado, assumíssemos as Causas do Evangelho do Reino, as Causas dos mártires na construção da sociedade do Bem-Viver.
Celebração da Paz
No terceiro dia do encontro, 03 de maio, as juventudes foram acolhidas com o refrão: "Seja bendito quem chega, seja bendito quem chega, trazendo paz, trazendo paz, trazendo a paz do Senhor!”.Entoaram os versos da abertura, e as vozes da assembleia repetiam com muita beleza e unção. Na recordação da vida, fomos chamados a entrarmos em comunhão com o povo judeu que celebra o sábado como dia do Senhor e a assembleia adere num grande silêncio. Neste dia, recebemos a notícia da páscoa-passagem de dom Tomás Balduino. Marcelo Barros foi convidado para fazer memória da vida deste bispo profeta da Esperança que dedicou sua vida ao serviço do povo, sendo uma presença da paz rebelde entre os militantes da CPT e CIMI... enfim na luta pela terra. Ainda recordamos as nossas utopias, nosso sonho da paz, e as situações que ferem a paz. Toda a destruição da casa da humanidade, as guerras entre os povos, a violência urbana, a falta de políticas publicas para os pobres, o narcotráfico, os milhões gastos na Copa, o trabalho escravo, o desemprego, o extermínio das juventudes, o conflito entre as igrejas, a não desapropriação de terras para a reforma agrária, a não demarcação das terras indígenas, todas as formas de corrupção, a exploração de corpos, o tráfico humano. O Hino: "É bonita demais, é bonita demais, as mãos de quem conduz a bandeira da Paz!”foi entoado e um casal de jovens entrou dançando com uma grande bandeira da paz. A bela oração da missa da Terra Sem Males foi rezada:

Shalom! Sauidi! A paz!
A Paz de Deus, na paz dos Povos.
O amor do Pai entre os irmãos e irmãs.
Todos os Povos num só Povo.
Porque o Senhor é nossa Paz.
Shalom a paz antiga,
Sauidi, a paz perdida,
Em Cristo, a nova Paz!
Shalom, Sauidi, A Paz!

Depois de ouvirmos o Evangelho de João 20,19-29, em que Jesus, estando no meio dos discípulos, diz por três vezes: "A paz esteja com vocês”, e depois de um profundo silêncio, a assembleia é convidada a lembrar nomes de pessoas que foram e são sinais de paz para nós, nesta hora uma grande ladainha de mulheres e homens: Helder Câmara, Margarida Alves, Pedro Casaldáliga, Rigoberta Menchu, Padre Cícero, Luther King, Gandi, Paulo Evaristo Arns, Dorothy Stang, Nelson Mandela, padre Gisley... e tantos outros foram lembrados. Com todas as pessoas sonhadoras da paz, foi rezada a oração que Senhor na Paz nos ensinou. Esse momento final foi selado com a oração e a dança pela paz: A paz esteja convosco... A paz de Cristo, Cristo, Cristo é nossa paz!

C. Em comunhão com os povos indígenas, que buscam a terra sem males, desejamos uns aos outros: "Sauidi!”
T. Sauidi!
C. Unidos ao povo negro, que luta por dignidade e reconhecimento, digamos uns aos outros: "Axé!’
T. Axé!
C. Junto com os que buscam a Deus no judaísmo, proclamamos: "Shalom!”
T. Shalom!
C. Com os irmãos e irmãs do islamismo, desejamos: "Assalam!”
T. Assalam!
C. Com todas as pessoas que procuram Deus, independente de qualquer religião, desejamos: "Paz!”:
T. Paz!


Vigília da Luz e da Esperança Pascal
Na noite do sábado, neste mesmo dia, iniciou-se a vigília num ambiente de penumbra. Enquanto era entoado o refrão meditativo: "Mesmo as trevas não são trevas para ti, a noite é luminosa como o dia”, jovens foram entrando com vários estandartes dos mártires, folhas de palmeiras e lamparinas acesas e posicionando-se entre os arcos, dando um belíssimo visual a toda a assembleia. Dois jovens acenderam as luzes da festa, a tocha central e as muitas velas e lamparinas que estavam espalhadas no espaço celebrativo. A equipe que presidia a celebração entoou a abertura do ofício de vigília, "Verdadeiramente ressurgiu Jesus, / cantemos aleluia! Resplandece a luz!” e toda a assembleia respondia cantando. Num determinado momento, as lamparinas que haviam sido distribuídas para todos e todas foram sendo acesas, iluminando todo o espaço. Ervas cheirosas eram oferecidas e subiam aos céus, a fumaça perfumada, "Suba nosso incenso a ti, ó Senhor!”, levando as preces desta assembleia em festa.
As pessoas que vieram para a celebração foram acolhidas e, na "recordação da vida”, ocorreu uma grande participação da assembleia, lembrando de fatos, situações, acontecimentos que marcaram nossas vidas nestes dias e se entoou o hino: "Quando morrer a utopia...”. Depois cantamos e rezamos o salmo 136 (135), louvando a Deus pelas maravilhas que ele fez na história do seu povo, na nossa vida e no nosso encontro.
Pois eterno é seu amor por nós, nesta certeza fomos convidados e convidadas a caminhar pelas ruas de Fortaleza "Caminhando e cantando” entoando cantos de lutas e esperanças, dizendo palavras de ordem, mas também no silêncio contemplando a noite, a realidade da vida do povo. As juventudes, com as lamparinas nas mãos, guiadas pelos mártires da caminhada e com as bandeiras das utopias saíram em direção à praia de Iracema,
Iluminando a noite e o caminho, numa grande procissão de sonhos e compromissos com o bem Viver!
Ao chegar à beira da praia, fomos convidados/convidadas a contemplar a noite, o céu, as estrelas, o mar, o som das ondas, a praia... Depois do silêncio contemplativo, embalados pelo refrão: "Onde Reina o amor, fraterno amor....” formamos rodas e, na voz da mulher, negra, jovem, escutamos o Evangelho João 21,4-14, onde o ressuscitado aparece aos discípulos, na beira do praia, e os convida para comer pão e peixe. Em seguida, reunimo-nos em rodas menores com esse convite de Jesus: Vinde comer. Lá estavam no centro de cada roda, tochas e cestos com cocos e peneiras com tapiocas e peixes... Jesus aproximou-se, tomou o pão... tomou o peixe e deu a eles. Em cada uma das 10 rodas, jovens entoaram a bênção da refeição fraterna, agradecendo a Deus pelos frutos da mãe terra e do trabalho das nossas mãos; rezamos a oração da unidade e o alimento foi partilhado entre todos e todas, numa grande festa da vida.
Finalizamos esta vigília da luz e da esperança pascal, dançando a grande ciranda, ensaiando e experimentando com os nossos corpos o amanhã de um novo dia, a primavera do Novo amanhecer!

Celebração de encerramento e de envio

Na manhã de domingo, dia 04 de maio, em clima de encerramento, com o refrão: Deus está em mim, Deus está em nós... Meu coração é pleno de amor”, iniciou-se a celebração de envio. A abertura foi com a música de Zé Vicente: Canto de amor, expressando nossa gratidão pelo caminho percorrido nestes dias e pelo o que o Espírito disse às nossas comunidades. Na recordação da vida, expressamos com palavras o que levo deste encontro, o que de belo foi construído e os desafios que precisam ser superados. Durante o hino "Momento novo” várias pessoas, homens e mulheres, jovens e idosas que trabalharam nas diversas equipes de serviço entraram com o painel do encontro.
A Palavra proclamada foi a de Marcos 16,15: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura!”. Em seguida várias pessoas, espalhadas no meio da assembleia, ressoaram essa boa notícia: Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova para toda a humanidade! Juventudes, vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Nova do Reino! Povo de lutadoras e lutadores, vão pelo mundo inteiro e anunciem a Justiça do Reino! E toda a assembleia adere a essa convocação cantando: "Onde reina o amor, fraterno amor, Deus aí está”. Em seguida foi lida a Carta do Encontro de Fortaleza, que foi acolhida por todas e todos, com uma grande salva de palmas.
Juventudes das cinco grandes regiões do Brasil entram com potes de óleo perfumado. Fez-se a bênção do óleo convidando-nos para sermos, nos quatro cantos da terra, o bom perfume de Cristo, as/os jovens se espalharam no meio da assembleia e ungiram a todos/as dizendo: "A paz esteja com você. Como o Pai me enviou eu também o/a envio. Receba o Espírito”. O cheiro do perfume da unção tomou conta de toda a assembleia e fomos abençoados e enviados a seguir em missão, sendo Juventudes Libertadoras.

Abençoa, Senhor, nossos olhos.
Que sejam confiantes e puros para enxergarem
em meio à noite mais tenebrosa,
a aurora que se aproxima!
Abençoa, Senhor, nossa boca.
Que gritemos em todas as línguas em favor da paz e da justiça
e denunciemos os que tiram a felicidade aos simples!
Abençoa, Senhor, nossos ouvidos.
Que escutem até o silêncio de quem está
impedido de falar ou que tem sua voz abafada!
Abençoa, Senhor, nosso coração.
Que acolha a todos e recuse a ofensa e o horror desta civilização!
Abençoa, Senhor, nosso ventre.
Que produza energias que provoquem mais beleza e alegria!
Abençoa, Senhor, nossos pés.
Que tenham agilidade e leveza para levar a todos os lugares,
as Boas Notícias de liberdade!.
Abençoa, Senhor, minha irmã! Abençoa, Senhor, meu irmão!
Assim as juventudes viveram em Fortaleza um momento de grande ação de graça, não só nas celebrações que foram o ponto alto do encontro, mas na trama de todo o encontro. Esse modo de celebrar se insere no cotidiano, mas, se torna verdadeiramente "fonte e cume” da experiência de comunhão da juventude reunida no evento.
Antonio Carlos Pereira da Silva (Tonny) – Membro da Irmandade dos Mártires da Caminhada
Laudimiro de Jesus Borges (Mirim), CSS – Membro da Rede Celebra de Liturgia e Irmandade dos Mártires da Caminhada
[1]Caçador de sonho tem seu sentido original na mitologia dos povos nativos. O caçador de sonhos é uma estrutura circular. Nas culturas nativas Mapuche e dos povos originários do Norte América, o caçador de sonhos pega os sonhos bons e os deixam presos, os sonhos ruins para que não voltem mais ele os deixam ir embora. O Caçador é colocado na porta das casas ou sobre as camas para que as crianças e todas as pessoas se levantem de bom gosto, depois de ter sonhado, sonhos bons durante a noite.
2 Sobre Espiritualidade, texto de Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.
3 Reginaldo Veloso. In: Revista de Liturgia, n. 242 março/abril de 2014.

DOCUMENTO

Documento público

domingo, 8 de junho de 2014

José do Egito e a Copa do Mundo: “Tu salvaste a nossa vida!”

[Edmilson Schinelo]



Um jovem desperta a inveja e o ódio de seus irmãos. É vendido como escravo a uma caravana de mercadores e depois ao comandante da guarda do faraó. Numa suposta armação da mulher de seu senhor, é levado à prisão. Tudo para dar errado.  Mas consegue dar a volta por cima. E torna- se o homem de confiança do faraó. O grande homem do Egito (cf. Gn 36-41).

A história de José nos é bastante conhecida. Sabemos também de como teria socorrido a seus irmãos, os demais filhos de Jacó, quando a miséria e a fome se abateram sobre Canaã e sobre outras áreas dominadas pelo faraó. Mas entre o emaranhado desta colcha que é a novela de José do Egito, há um retalho que chama a atenção. Trata-se da política de exploração implantada por José, descrita em Gn 47,13-26.

Não havendo mais pão em Canaã e em toda a terra do Egito, José reuniu o dinheiro do povo e o entregou ao Faraó (Gn 47,13-14). Quando  acabou  o  dinheiro,  sem nenhum  escrúpulo,  o  mesmo  José exigiu  que  o  povo  entregasse  seus rebanhos em troca de comida (Gn 47,15- 17). No ano seguinte, tendo continuado a seca, volta ao povo a José e implora mais uma vez por pão. Mas agora José já é chamado de senhor: “... Nada mais resta à disposição do meu senhor do que nossos corpos e nossas terras! Compra-nos, pois, a nós e a nossos terrenos em troca de pão!” (Gn 47,18- 18).

Não havia mais nada a ser entregue ao senhor e dominador. Ou havia? Dinheiro, rebanhos, terras e corpos já tinham sido entregues. Mas restava uma coisa: a consciência. Infelizmente, diz o texto, a gratidão a José foi imensa: “Tu salvaste a nossa vida!” (Gn 47,25). Como assim? Depois de tanta exploração e de total expropriação, a ponto da entrega dos próprios corpos, o coordenador deste sistema é ainda chamado de salvador?!  Será que ninguém mais se lembrava de que o pão que José distribuía às migalhas já havia sido retirado do próprio povo e estava acumulado nos armazéns da corte?

Louvado seja o mercado, louvada seja a FIFA. Afinal de contas, teremos uma copa do mundo com qualidade padrão FIFA, que exigiu trabalho sério de grandes empreiteiras.  Estas, por sua vez, geraram emprego para muita gente! Se houve remoções de milhares de família, foi só uma mera exigência do progresso.  Se houve mortes na construção dos estádios, foram “meros acidentes de trabalho”. O lucro e os benefícios ficarão. Devemos então nos ajoelhar diante do mercado, diante das empreiteiras, diante da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional e dizer a cada uma dessas divindades: “Tu salvaste a nossa vida!”.

Os pobres não irão aos estádios, como também não terão acesso a hospitais e a escolas de qualidade. Mas deverão também dizer: “Tu salvaste a nossa vida!”. As baianas seguirão proibidas de vender seu acarajé em áreas reservadas às multinacionais. O vendedor ambulante e até mesmo o picolezeiro estão proibidos de se aproximar dos estádios. Mas todos deverão dizer: “Tu salvaste a nossa vida!”.    Afinal, é para isso que se compram as consciências. Será que compram mesmo? Parece que não! Pela primeira vez na história, o chamado “país do futebol” grita com o corpo e com a alma: “copa pra quem?” Não nos calaremos, porque passada a copa, as obras faraônicas tendem a continuar se não continuarmos a desmascarar esse José do Egito. Não a ele e sim à luta popular e ao Deus verdadeiro é que diremos:
“Tu salvaste a nossa vida!”.

terça-feira, 20 de maio de 2014

CEBI-SC: Adultos falam sobre realidades juvenis

No último fim de semana, dias 17 e 18 de maio, realizou-se um Seminário em Chapecó, no oeste catarinense. O evento é a retomada dos estudos bíblicos naquela região que, segundo a coordenação do CEBI-SC, é o berço da Leitura Popular no Estado. O tema: "Realidades Juvenis - Como a Bíblia nos ilumina?"

A assessoria foi de José Luiz Possato Jr., do CEBI-RS. O texto a seguir é de sua autoria e reflete o que foi o encontro.

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FUI, VIRAM, VENCEMOS!


“Nunca se ouviu falar de ninguém que tenha
aberto os olhos de alguém que nasceu cego.
Se esse homem não viesse de Deus,
não poderia fazer nada.”
(Jo 9,22-23)

Ao passar Jesus, alguma coisa sempre acontece. O coxo anda, a surda ouve, a muda fala, o cego vê. Há tempos queria falar aos adultos sobre os jovens. Finalmente, veio Chapecó/SC e a oportunidade. Lá, descobri que a sede juvenil de entender a palavra não é menor que o desejo adulto de compreender o fenômeno juventude.

Jesus vê aquele que era cego de nascimento, segundo nos diz João, cap. 9. Parece óbvio. O contrário é que não poderia ser, não é!? O que chama a atenção, porém, é a suspeita de que essa pessoa, habituada a conviver com a cegueira desde o nascimento, não percebia isso como uma deficiência. O mesmo se dava com os participantes, que interpretaram os jovens como sendo o cego do texto, necessitando, portanto, serem “auxiliados” (guiados, na verdade) pelos adultos. Pobres vítimas do adultocentrismo! Programadas e programados, desde o nascimento, para manter o bom e velho sistema patriarcal, comandado não mais pelos chefes de família, mas igualmente dominado por uma elite masculina, branca e poderosa. Que belo susto tomaram quando perceberam como, sem querer, querendo, seu discurso estava impregnado do desejo, não de animar, mas controlar o protagonismo juvenil.

Isso faz deles pessoas ruins? Não, obviamente! Temos a cultura de culpar as vítimas. Ora, essas são cegas desde o nascimento. Quem são os culpados, então? Seus pais? Vítimas, igualmente! Vítimas à espera de manifestação divina, de um sinal dos céus, única esperança que lhes resta, muitas vezes. Gente que não se apega mais à Lei, mas espera na Justiça. Esperança de que os verdadeiros culpados de sua cegueira sejam destronados. Sofrem o peso de uma cultura opressora. Sofrem caladas e calados. São marcados na alma. Reproduzem o discurso, pois é a única coisa que entendem, é o único mundo que conheceram, enfim.

É tanta sujeira! Para ver melhor, a gente precisa se lavar. Mais que isso: é preciso renascer. Do barro viemos; o barro restaura a visão. A vida é recriada. Aperta-se uma tecla; reboot iniciado. Jesus, luz do mundo (faz sentido! Como enxergar no escuro?), faz o lodo, dizendo com isso que precisamos entender qual o sentido da criação. Principalmente, precisamos entender que não somos deusas e deuses; somos criatura. Não temos o poder sobre todas as coisas e, se algo dominamos, é por mera concessão divina. O relato da criação deixa claro que nosso papel é cuidar do jardim. Não somos os donos do campinho. Não somos os donos das nossas filhas e filhos. Da mesma forma, não deveríamos ser propriedade de ninguém. Se isso acontece, algo está errado. É preciso iluminar o caminho. Nada como a água para tirar a sujeira que nos impede de ver.

Não é à toa que a água é a matéria do batismo. Lavar-se, enxergar, é comprometer-se, mudar a postura, mudar de atitude. Isso incomoda quem está à nossa volta: “Você, um adulto, falando mal dos adultos?” Não, não estou falando mal dos adultos; estou falando que o modo como tratamos os jovens é errado. “Mas até outro dia era tu que falava mal deles!” Mas agora vejo as coisas de um modo diferente. “Ora, não me venha pregar moral de cueca!” Mudar incomoda quem está por perto, pois obriga as pessoas a repensarem suas opiniões. Ninguém gosta de ser confrontada, confrontado. Nem todos têm coragem de renascer...

Por que é preciso coragem? Ora, porque o questionamento sempre leva à origem de todos os males: o centro do Poder. Imagine que você tem uma longa caminhada na comunidade. Todo mundo te conhece, conhece teus filhos. Alguém te encontra no trabalho, numa festa, numa rua qualquer e te reconhece como aquela, aquele que toca nas missas de sábado à noite. De repente, vem um cidadão e começa a questionar os hinos da Igreja, que há mais de 20 anos são os mesmos. Como você se sentiria? Bom, o fato é que esse cara tem razão: são sempre as mesmas músicas, desde que você começou a tocar. O que fazer? Seja sincera, seja sincero ao responder. Vou dizer o que acontece normalmente: as pessoas usam o poder que o longo tempo de permanência no posto lhes confere para, mesmo reconhecendo que o outro tem razão, fazer com que toda a comunidade ignore-o. E, se o sujeito insistir, moverá céus e terras para bani-lo do convívio do grupo. Não confiamos no que não podemos controlar. Por isso, não confiamos nos jovens. Por isso, a grande mídia procura desmoralizar quem questiona a autoridade da elite dominante. Não gostamos de ser controlados, mas procuramos controlar o que nos cerca. É nossa cultura! É útil aos governantes, pois nos mantém divididos. Quando alguém percebe isso, e passa a questionar o opressor, corre o risco de ser silenciada, ser silenciado.

Onde buscar coragem para enfrentar os riscos? Nossa mentalidade de adulto manda recorrer à família. A mãe e o pai do cego do texto, com medo dos fariseus, entregaram o filho à própria sorte. Às vezes, a família é a primeira prisão do jovem: “Estuda primeiro, meu filho! Para de ficar sonhando acordado! Não te envolve em política...” Quando ele ou ela demonstra que não cabe na caixinha que seu pai e sua mãe lhe prepararam, fica desamparado: “Quando te falei, não me obedeceu, né!? Agora é por tua conta! Engole esse choro!” Nestas condições, é normal ficar desorientado. Mas é quando precisa de suas asas que normalmente o jovem se supera. Sua ousadia surpreende e desarma o adulto. A reação é instantânea: “Ou tu te molda à estrutura, ou tá fora!” Ser desafiado a voar... e pelas próprias asas! Quantos pais, quantas mães têm medo de ver seus rebentos caírem? Quantos adultos têm medo de não serem mais úteis? Mas tem aquela parcela mal intencionada... Seu medo é que isso – o voo – dê certo! Quem é capaz de voar só para se for abatida, abatido. Aves solitárias voam muito alto para ficar protegidas. Não é o caso dos jovens. Sua natureza é totalmente social, grupal. Eles voam em grupos. Isso lhes dá força, isso lhes dá coragem. Imagino que, enquanto dançava o “guli, guli”, o povo de Chapecó tenha percebido isso. Em vez de querer que sejam águias, fortes mas solitárias, é preciso aprender a voar com os jovens.

Voar em grupo e fora da estrutura... Isso é liberdade! Os fariseus expulsam o que tinha sido cego do Templo. Enquanto o longo debate ocorreu dentro da instituição, onde esteve Jesus? Ninguém o viu! Ninguém o conhecia direito, nem mesmo o curado da cegueira, que o considerava um profeta. Quando é que ele e Jesus voltam a se encontrar? Fora do Templo, fora da estrutura, fora do sistema. É nesse momento que o neovidente o reconhece como o Messias, o Filho do Homem. É como se ele fosse adquirindo a visão aos poucos. Ou seja: Para ver, basta querer! Mas não acontece de uma hora para outra. É processo... Os adultos de Chapecó levaram um final e semana inteirinho para perceber suas limitações. E não vamos dizer que saíram doutores em juventude. Mas uma coisa elas e eles aprenderam: Só vamos enxergar, de fato, quando rompermos definitivamente com esse sistema que está aí. O primeiro passo? Desconstruir nosso discurso impregnado de ideais patriarcalistas. Como? Não esperar que os jovens abracem nosso modelo de comunidade, mas ir ao encontro deles, estar com eles, caminhar com eles, ouvi-los antes de sermos ouvidos.

Quem disser o contrário, estará sendo como os fariseus. Eles se julgavam superiores quando disseram àquele que foi curado: “Tu vives todo em pecado e quer nos ensinar!” Eles perceberam desde o início que só um enviado de Deus poderia curar a cegueira do povo. Mas não podiam colocá-lo num sacrário, não tinham como controlá-lo. Então, apegaram-se à Lei, à proibição de curar no sábado. Ora, Jesus mostra que o sábado foi feito para nos lembrarmos de continuar a obra da criação. Não há outro sentido para o descanso de Deus. Os fariseus bem o sabem, mas assumi-lo é abrir mão do Poder que exercem sobre o povo, condição que lhes é mais sagrada que o próprio sagrado. Por isso, são os piores cegos. Sua postura não é de não saber; é de não querer.

Como adultos, temos duas opções: Ou manter o discurso controlador, ou abrir-se ao diferente, isto é, ao modo como o jovem vê o mundo. O povo de Chapecó disse que estava saindo quebrado do encontro. Alguns disseram que estavam com pulgas atrás da orelha, que saíam do seminário com muito mais pontos de interrogação do que quando entraram. Isso é ótimo: Ver é processo! Pulga coça, incomoda, faz a gente se mexer. Estou num ônibus, quase chegando em minha cidade: São Leopoldo/RS. Tomara que minha passagem por terras catarinenses não tenha sido como a da banda do Chico Buarque, que fez todo mundo se mexer, mas, tendo passado, tudo voltou ao lugar. Tomara que minha passagem por lá seja como a de Jesus: criadora, incômoda, transformadora e um sinal do Reino definitivo. Amém!

terça-feira, 6 de maio de 2014

CEBI-RS: Juventude Ecumênica na Fronteira com o Uruguai


Com alegria começamos o encontro bíblico ecumênico para jovens, com o tema: “De estudantes a cidadãs e cidadãos – Rede de Jovens e Participação”.  A assessoria do encontro foi de José Luiz Possato Jr – CEBI-RS.  O encontro teve como objetivo animar e celebrar com a leitura bíblica jovens de diferentes denominações da fronteira do Rio Grande do Sul: Livramento e Rivera, despertando nos jovens a reflexão e a participação cidadã.
 
Iniciamos com um momento de espiritualidade dinamizado pelo grupo de jovens da casa, o qual convidou os demais a refletirem sobre o tema da ‘cruz’ desde uma perspectiva juvenil. Os jovens, simbolicamente, pegaram o desenho de uma cruz e nesta escreveram situações que identificam como cruzes da juventude. Após breve partilha entre o grupo, concluiu-se com uma roda de partilha e a oração do Pai Nosso Ecumênico.
 
O assessor iniciou sua reflexão explorando com o grupo a intencionalidade do tema proposto, desde o sentido das palavras. O grupo foi participando fazendo suas contribuições e intervenções desde as provocações feitas. Falar de Rede de Juventudes, é falar de diversidade de pensamento, culturas, grupos afins, o contrário de uma predominância de um único pensamento. Estar em rede é garantir a identidade individual de cada pessoa. O texto de Lucas 14,25-33 foi um dos fios condutores de nossa conversa, pois a partir dele o grupo foi analisando o discurso político de Jesus em relação ao seu povo. Os jovens foram percebendo que a ação política é algo que não pode ser atrelado somente à questão das eleições, mas a consciência do nosso exercício como cidadãs e cidadãos.
 
A juventude se movimentou bastante e quis entender os detalhes da Palavra, sua postura, confrontando com a sua realidade. Foi-lhes apresentada a metodologia VER, JULGAR e AGIR, a fim de mobilizar o grupo a pensar em propostas, projetos concretos que possam intervir na realidade. O grupo foi convidado a formar grupos e construir projetos juntos. Após o tempo para partilha e construção em grupo, os jovens apresentaram suas propostas e projetos elaborados. Os temas abordados pela juventude: drogas, violência e preconceito.
 
É necessário que a forma de ver e analisar as situações não seja ingênua, é preciso ampliar, aprofundar a análise. Durante as apresentações, o assessor foi realizando intervenções, a fim de provocar o grupo a sair da zona de conforto. Refletir sobre as motivações que temos para realizar determinadas ações e as consequências que as ações e atitudes que assumimos podem refletir na forma como vivemos. Ao finalizar o encontro, percebeu-se a necessidade de que o grupo pudesse assumir um projeto comum, garantindo a formação e aprofundamento do tema em questão. Após breve análise do assessor, o grupo foi convidado a se manifestar, posicionando-se diante de duas propostas: criação de vídeos/teatro ou de um grupo fechado no facebook para discussão. Como compromisso, o grupo assumiu a proposta do grupo de discussão no facebook. O assessor se comprometeu a assumir o acompanhamento juntamente com a equipe de assessoria do CEBI Jovem – Fronteira.
 
Confira mais algumas fotos do evento

 
 
 
 
 
 


Fonte: Ir. Alecsandra Pina de Oliveira/CEBI-RS

CEBI-PA: 3ª Etapa da Escola Bíblica da Juventude


Ocorreu nos dias 26 e 27 de abril a 3ª etapa da Escola Bíblica da Juventude, com o tema: "A Juventude Interpreta e Recria". O encontro teve como objetivo levar a Juventude a perceber-se em seu contexto histórico-social e assumir seu protagonismo em uma atitude de mudança!

O evento teve a parceria do CEBI, da Pastoral da Juventude da ICAR e da Igreja Anglicana. Participaram na assessoria pelo CEBI: Dilma Leão, Zolema Neusarina Caravelas Furtado, Genival, e representando a Igreja Anglicana, Marcos.
 
Vivenciamos momentos de reflexão, partilha, dramatização, estudo, interpretação, descontração e muita alegria! O encontro teve a participação de aproximadamente 80 jovens.
 
Confira algumas fotos do evento
 
 
 
 
 
 
 


Fonte: Dilma Leão, CEBI-PA

quarta-feira, 30 de abril de 2014

CEBI-MS: II Turma da Escola Bíblica da Juventude

“Eu quero ver, eu quero ver acontecer
O sonho bom, sonho de muitos acontecer.”
(Zé Vicente)
 

Nesse mês de abril teve início, em Campo Grande/MS,  a II Turma da Escola Bíblica da Juventude (EBJ). A Etapa I aconteceu nos dias 26 e 27 na comunidade Santíssima Trindade e contou com o apoio e assessoria de jovens de nossa paróquia, que participaram da 1ª turma, em parceria com o CEBI (Centro de Estudos Bíblicos). Com o tema “Metodologia e Visão global da História de Israel (AT)”, a etapa abordou questões como: o que é a bíblia, quem são seus autores, línguas de origem e traduções, gêneros literários, Cânon bíblico, livros apócrifos, método de leitura, a simbologia dos números e geografia bíblica.
 
A EBJ existe na Paróquia Nossa Senhora de Fátima desde o ano de 2011 e tem o propósito de formar leigos para exercerem os valores cristãos na vida pessoal e comunitária através do exercício da leitura popular da bíblia, além de contribuir para a formação de acompanhantes de grupos juvenis. Os encontros acontecem em um fim de semana a cada dois meses (sábado a tarde e domingo o dia todo) e a contribuição é de R$ 15,00 por etapa.
 
Apesar de já ter iniciado, ainda dá tempo de novos participantes ingressarem na 2ª etapa que acontecerá nos dias 31 de maio e 01 de junho. Os interessados podem obter maiores informações e se inscreverem com os coordenadores da escola (Nayara [67] 9287-1461 e Fernando [67] 9916-1696).

terça-feira, 1 de abril de 2014

REJU resgata histórias de militantes do movimento ecumênico vítimas da Ditadura Militar

A Rede Ecumênica da Juventude (REJU) organizará entre os dias 31/03 e 04/04, período em que se completam 50 anos do Golpe Militar e o início dos anos de ditadura no Brasil, uma mobilização por Memória, Verdade e Justiça. As intervenções acontecerão com a participação da REJU em atividades e atos orientados por esta temática; e com a mobilização nas redes sociais com a marca #DitaduraNuncaMais, visibilizando os nomes e trajetórias de militantes do movimento ecumênico que resistiram e foram vítimas do Regime Militar.

Durante a semana, resgataremos as histórias de pessoas como Anivaldo Padilha, Eliana Rolemberg, Ivan Motta Dias, Paulo Stuart Wright, Heleny Guariba, Alexandre Vanucchi, Frei Tito, Frei Beto, Padre João Bosco Burnier, Madre Maurina Borges da Silva, Waldo Cesar, Antonio Canuto, Jaime Wright, entre outras.

Ao contar as histórias de lutadoras e lutadores - que impulsionadas(os) por um radical amor à vida, às liberdades e aos sonhos de justiça e paz, colocaram-se na linha de frente contra a ditadura - reafirmamos a necessidade de uma real justiça de transição em nosso país, com a revisão da lei de anistia e a punição dos torturadores e culpados pelas profundas violações de direitos neste período histórico. Além disto, ao buscarmos uma efetiva justiça de transição, relembramos as juventudes que ainda hoje sofrem reflexos deste passado, com torturas e extermínios nas periferias; jovens negros, pobres, que trazem em seus passos e corpos as violências da polícia e do estado.

segunda-feira, 17 de março de 2014

CEBI-ES: Encontro Bíblia e Juventudes

Aconteceu na tarde deste domingo, dia 16 de março na sala do CEBI-ES, um caloroso encontro de jovens com o tema: "Bíblia e Juventudes". Foi um excelente momento de reflexão a partir do texto de Lc 7,11-17 contextualizado e vivenciado entre os presentes que por si só, abrilhantaram o nosso encontro, mas que também representaram importantes entidades inseridas na sociedade como: Movimento Nacional dos Direitos Humanos, MST, Fejunes, DCE-UFES, Comissão Justiça e Paz, Rede Ecumênica da Juventude (REJU), Seminário Nossa Senhora da Penha, Membros da Igreja Cristã Maranata, Igreja Presbiteriana Unida e Juventude Católica.

Foi um encontro gratificante e prazeroso para nós. Possibilitou a troca de experiências e anseios no mesmo ideal de encontrar as soluções para os desafios, numa reflexão e partilha da palavra de Deus de maneira popular contextualizada à realidade.
Sidneia Imaculada Oliveira

CEBI-ES



quinta-feira, 13 de março de 2014

É HORA DE TRANSFORMAR... O QUÊ?

domingo, 23 de fevereiro de 2014

CEBI-MS: Escola Bíblica para Jovens em Campo Grande


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Com a frase “Como posso entender se alguém não me explicar?” (At 8,31), o CEBI-MS convida a juventude de Campo Grande e região para a Escola Bíblica da Juventude, programada para 2014-2015.
A atividade tem como objetivos: 1. formar lideranças leigas para exercerem os valores cristãos na vida pessoal e comunitária; 2. exercitar a Leitura Popular da Bíblia na perspectiva juvenil; 3. contribuir na formação de acompanhantes de acompanhantes de grupos juvenis.
Em 14 etapas distribuídas durante os dois anos, o curso oferecerá uma visão geral do Primeiro e do Segundo Testamentos. O primeiro encontro acontece em fevereiro de 2014.
A atividade será oferecida em parceria com a Pastoral da Juventude da ICAR.
Contribuição: 15,00 por etapa (o valor inclui o fornecimento de material didático).
Mais informações:
Nayara Martins: (67) 9287-1461
Fernando da Mata: (67) 9916-1696

Redução da maioridade penal é rejeitada pelo Senado

por Revista Forum
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Com 11 votos contra e 8 a favor, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado rejeitou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que visava diminuir a maioridade penal de 18 para 16 anos em casos específicos. A maioria da comissão considerou a mudança proposta como inconstitucional, além de violar os direitos das crianças e dos adolescentes.
O texto, que é de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) (foto), foi derrubado com cinco votos de senadores do PT, dois do PMDB, um do PSOL, um do PSDB, PCdoB e do PSB. Os debates se prolongaram por horas e o auditório foi ocupado por ativistas dos Direitos Humanos que comemoraram a derrubada do Projeto de Lei.
Quando foi fazer a defesa do texto, o senador Aloysio chegou a bater boca com um manifestante, que o chamou de “fascista”, no que o parlamentar respondeu que “quem grita e interrompe é que é fascista”.
Segundo a proposta do senador tucano, responderiam criminalmente como adultos adolescentes acusados de praticar delitos inafiançáveis, tais como crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo. Os reincidentes em lesões corporais ou roubo qualificado também seriam criminalizados caso houvesse parecer favorável de um promotor da Vara da Infância e autorização da justiça.
Mas a maioria da CCJ considerou inconstitucional a PEC e seguiu o voto do senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP). “Essa pretensa solução aqui apresentada, ao contrário de resolver o problema, só irá trazer outros problemas, encher as penitenciárias do falido sistema penitenciário brasileiro de mais filhos da pobreza deste país e agravar ainda mais um problema deste país”, disse Randolfe.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), declarou que diminuir a idade penal não “inibe a criminalidade entre os adolescentes”. “A responsabilização penal no Brasil começa aos 12 anos, por meio de medidas socioeducativas”, disse o peemedebista, referindo-se à idade prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Quem saiu em defesa do projeto de Aloysio Nunes Ferreira foi o senador Magno Malta (PR-ES), que possui um PL que reduz a maioridade penal para 13 anos e defendeu que “qualquer criança ou adolescente que cometa crime hediondo seja julgado com adulto”.
A seguir, confira quem votou contra e a favor:
Contra a redução da maioridade penal:


Angela Portela (PT-RR)
Aníbal Diniz (PT-AC)
Antônio Carlos Valadares (PSB-PE)
Eduardo Braga (PMDB-AM)
Eduardo Suplicy (PT-SP)
Gleisi Hofmann (PT-PR)
Inácio Arruda (PCdoB-CE)
José Pimentel (PT-CE)
Lúcia Vânia (PSDB-GO)
Randolfe Rodrigues (Psol-AP) – autor do voto em separado que derrubou o relatório oficial
Roberto Requião (PMDB-PR)
A favor da redução da maioridade penal:
Aloysio Nunes (PSDB-SP) – autor da PEC rejeitada
Armando Monteiro (PTB-PE)
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
Cyro Miranda (PSDB-GO)
Magno Malta (PR-ES)
Pedro Taques (PDT-MT)
Ricardo Ferraço (PMDB-ES) – relator da PEC rejeitada (não estava presente, mas seu voto foi computado)
Romero Jucá (PMDB-RR)