terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O caminho aponta para Betânia


“Seis dias antes da páscoa, Jesus foi para Betânia. Na casa, Maria levou perfume de nardo puro e ungiu com ele os pés de Jesus”. [João 12, 1.3]

Somos Igreja Jovem. Somos Pastorais da Juventude. Somos o Povo de Deus. Somos seguidores/as de Jesus. E como Povo Deus estamos a caminho. Estamos a caminho seguindo Jesus. Estamos a caminho, assumindo a vida da juventude na perspectiva do discipulado e da missão. Estamos a caminho no compromisso com a vida da juventude. Estamos a caminho, no desejo de revitalizar a fortalecer a ação eclesial/pastoral com os/as jovens.

Desde o nosso chão, nossa Pátria Grande - América Latina, seguimos na fidelidade ao projeto de Jesus e aos/às jovens. Essa caminhada rumo ao Horizonte já percorreu um longo caminho através de muitos anos nos quais a Pastoral da Juventude serviu e serve aos/às jovens. Essa caminhada tem marcas profundas em nossa Latino-América e na vida da juventude. Esse caminho em busca de construir no hoje e no agora a Civilização do Amor nos últimos anos nos levou a optar a ir com Jesus e com os/as jovens para Jerusalém. Com Ele seguimos decididamente para Jerusalém.

O caminho para Jerusalém, na fidelidade a vontade do Pai, é um longo caminho. Caminho de discipulado e missão. Caminho de serviço, escuta e discernimento. Caminho de compromisso e causa. Caminho de aprendizado e doação. Por isso, mesmo, com os/as jovens e com Jesus, partimos de Emáus, passamos por Belém, residimos em Nazaré e agora chegamos em Betânia.

Betânia, casa dos pobres. Casa de amigos/as. Casa de escuta. Casa de silêncio, choro, dor. Casa de partilha. Casa de cuidado. Casa de humanidade. Casa de ressurreição. Casa de dar a vida, de resgatar a vida. Casa de ir ao encontro. Casa de amor e doação. Casa de unção e envio. Casa de cultivo e de alimento pra missão. Casa de festejar a vida. Casa de comer e beber. Casa de desafio. Casa que exala perfume. Casa de coragem e profecia. Casa que nos inquieta e desafia. Casa de encarar o mau cheiro e a podridão, no compromisso com a vida. Casa...

Betânia é casa que nos acolhe e recebe. É casa que nos envia. É casa que queremos habitar com Jesus e com os/as jovens neste caminho de compromisso com o Reino, rumo a Jerusalém. Casa onde nos encontraremos com o Senhor e com os/as jovens neste ano de 2013. Casa que nos envia e fortalece no amor e no serviço à juventude.

Casa que nos acolhe neste tempo. Casa que nos fortalece e nos provoca a fortalecer a opção preferencial pelos jovens, pelos pobres. Casa que nos motiva e inspira neste ano de Campanha da Fraternidade sobre juventude. Casa que nos provoca e nos alimenta neste ano de Jornada Mundial da Juventude. Casa que nos fortalece e nos envia no amor e no serviço aos/às jovens de nosso Continente.

Queremos refletir, pensar e rezar sobre essa Casa, essas Casas... Sobre Betânia. E já no inicio deste caminho somos provocados pela realidade que nos interpela. A CAJU, Casa da Juventude Pe. Burnier, instituto de formação, pesquisa e assessoria em juventude, que durante 29 anos prestou um grande serviço à juventude e à Pastoral da Juventude, fechou. Dos 28 cursos e serviços prestados, funcionarão neste ano apenas 5. É uma Betânia que se fecha pra muitos jovens. É uma Betânia que marcou nossas vidas e a vida de milhares de jovens e assessores/as que por lá passaram ou tiveram contato através de muitos materiais, subsídios, formações, serviços e assessorias. Estamos unidos/as a todos/as que fizeram a história dessa Casa, dessa Betânia. E com eles/as seguimos firmes no compromisso com a vida da juventude.

O ano igualmente começou com uma triste fatalidade. Mais de 230 jovens foram mortos e outras centenas ficaram feridos/as em um incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria/RS. Muitas vidas ceifadas. Muitos sonhos, projetos de vida, desejos e vidas interrompidas abruptamente. A Pastoral da Juventude escreveu uma nota, que fazemos nossa. Diz a PJ e nós com ela: “Diante da morte não podemos nos calar. Não podemos aceitar que a morte tenha a última palavra. Aprendemos a ter esta postura por meio do seguimento a Jesus Cristo, o Jovem de Nazaré. Que a memória desses jovens falecidos/as e feridos/as nos comprometa sempre mais com a vida da juventude, em especial com os/as que mais sofrem e estão à margem da sociedade. Gastemos nossas vidas no cuidado, no serviço e no amor incondicional à juventude. Na Páscoa de Cristo temos a certeza que a morte não tem a última palavra, por isso, apesar da dor e da tristeza, sigamos, juntos/as, no compromisso com a vida da juventude.” Que este ano de Betânia que começa com essa triste fatalidade nos comprometa sempre mais com a vida da juventude. Que possamos, “apesar da dor e da tristeza, seguirmos juntos/as, no compromisso com a vida da juventude.” Estamos unidos/as e solidários com os/as feridos/as e com as famílias das vítimas. Desejamos sempre mais gastar a vida pela vida da juventude.

Casa que quer nos acolher. Casa que acolhe Jesus, seus amigos/as. Casa que acolhe os/as jovens de nossa Pátria Grande. Casa onde somos convidados a partilhar e conhecer neste ano. Vamos juntos/as viver Betânia, com os/as jovens e com Jesus, na causa do Reino?

Desde Betânia, sintamos o perfume que brota do encontro com o Mestre e com a Juventude. E exalemos esse perfume de vida e esperança por todos os cantos....

Pe. Maicon André Malacarne – Assessor da PJ na Diocese de Erexim
Luis Duarte Vieira – Militante da PJ e noviço admitido à Companhia de Jesus

SANTA MARIA: HORA DA PROFECIA


Santa Maria/RS, 27 de janeiro de 2013. Ninguém irá se esquecer dessa data tão cedo! Quer dizer... é o que se espera! Mais de 230 mortes desnecessárias e perfeitamente evitáveis. Mas... por que aconteceram?

Sabem que, apesar de comovido, eu não havia pensado no assunto a fundo ainda. Mas hoje, vendo minha esposa chorar, percebi o quanto somos acomodados e alienados. Em seu desabafo, pura denúncia profética: “Todo mundo crucificando o gurizinho (sim, ele também é um jovenzinho) que iniciou o incêndio, mas ninguém fica revoltado com o funcionário público preguiçoso ou corrupto (e, aqui, não estamos falando de todos, mas de uma parcela que, de fato, o é) que faz vistas grossas para o alvará vencido, ou assina uma licença sem saber o que, de fato, está assinando! Ninguém se lembra do bombeiro que não interditou um lugar sem as mínimas condições de segurança! Cambada de hipócrita! São muito mais culpados do que os músicos, que, no fim das contas, queriam só divertir a turma”.

Ouvi tudo calado. Não chorei, mas devo ter corado de vergonha. Até então, tudo o que eu tinha lido/ouvido a respeito se limitava a cartinhas de solidariedade, reflexões sobre o que a morte e a dor teriam a nos ensinar, além de análises muito supérfluas, sempre buscando culpados entre os que estavam na boate naquela noite. O que mais me irritou foi um texto falando que Deus quis fazer uma festa(?) no Céu e, por isso, levou a gurizada, deixando-nos na saudade. Ora, a quem poderia servir esse tipo de pensamento? Foi Vontade de Deus, então!? Mas que bando de covardes somos nós! Enquanto culpamos Deus, os verdadeiros responsáveis continuam decidindo nossas vidas.

Meu Deus, que ótima oportunidade de sermos profetas de verdade! Ok, as cartinhas de solidariedade são legais, demonstram nosso interesse (ou o tamanho dele, pelo menos)... Mas cadê a coragem de denunciar todo um sistema responsável pelo extermínio de jovens? Esses morreram asfixiados ou queimados, mas quantos morrem lentamente, com “pílulas coloridas” amplamente distribuídas nas raves? Quantos morrem lentamente, todos os dias, embaixo de um viaduto, aparentemente invisíveis? Esses mesmos, que morreram em Santa Maria, teriam sido vítimas de um suborninho aqui, uma propininha ali, essas coisas que “agilizam” a liberação das atividades de um estabelecimento? Cadê a coragem profética de denunciar essas práticas que só visam o lucro? E não estou falando dos seguranças, que fecharam as portas com medo da gurizada sair sem pagar o ingresso. Mais gananciosos são os membros do cartel do entretenimento, para os quais não importam as pessoas, mas o que elas estão dispostas a pagar por diversão. Esses criam necessidades, determinam o que realmente é divertido, não nos dando a chance de decidirmos o que realmente queremos. Mais uma vez... são outros os que decidem por nós. Até quando?

Não chora, meu amor! Ou melhor, se vai chorar, saiba que estou aqui, solidário ao seu sofrimento. Agradeço por abrir meus olhos. Se ninguém mais quiser denunciar as maldades dessa sociedade corrupta e hipócrita, falemos nós! Um dia, alguém nos escutará!